Investimentos e negócios: A transformação da sociedade na jornada da cultura ESG

Por Alexandre Velilla, empresário que reúne em sua trajetória profissional mais de 25 anos de experiência em empresas nacionais e multinacionais

O impacto da implementação de práticas ESG (Environmental, social and corporate governance – Governança Ambiental, Social e Corporativa) na captação de investimentos por parte das empresas é decisivo. Uma reportagem da Revista Veja deste ano, por exemplo, aponta que pelo menos 30 trilhões de dólares estão sob a gestão de fundos que investem exclusivamente em negócios com práticas sustentáveis.

E, no Brasil, este movimento também já está se tornando uma realidade. Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) apontam que até fevereiro deste ano, o patrimônio líquido de fundos sustentáveis foi de 1,07 bilhão de reais, quase o dobro do que há um ano.

Em outras palavras: como toda ação de impacto, além de ganhos para a sociedade, há um ganho em termos de crescimento organizacional. Dentro deste contexto, vemos também surgir uma onda positiva de negócios digitais que direcionam seus esforços para o desenvolvimento de soluções que geram impacto social e ambiental relevante para a sociedade.

Nesse sentido, startups que oferecem soluções que auxiliam empresas na estruturação de práticas mais sustentáveis, naturalmente, têm grande potencial de atração de investimentos.

E isso vale para os mais diversos mercados: no setor de construção civil, por exemplo, startups de gestão de resíduos e com foco em sustentabilidade estão entre os principais expoentes de um ecossistema que, segundo mapeamento da Terracota Ventures, já conta com 839 startups no país. Por sua vez, a ACE Cortex já mapeou mais de 343 startups atuando exclusivamente com ESG no Brasil, número que prova a pujança de um nicho de mercado que só tende a crescer.

Mas de que maneiras posso implementar práticas ESG na minha empresa?

Esse questionamento é muito comum entre as lideranças do país e a verdade é que há diversos caminhos para estruturarmos estratégias sustentáveis, de impacto social e com foco em governança em nossas organizações, inclusive por meio de ações de baixíssimo custo que permitem a empresas de pequeno porte aderirem a filosofia ESG.

Temos, por exemplo, a possibilidade de alinhamento com os times de RH para a criação de campanhas que motivem os funcionários a adotar práticas alinhadas com ESG (uso de garrafas próprias no lugar de copos descartáveis, incentivo ao não desperdício de recursos naturais, ações de voluntariado) até projetos mais estruturais do negócio, como o gerenciamento dos resíduos sólidos e líquidos para reciclagem, o incentivo a diversidade nas contratações e a criação de parcerias com ONGS para apoio a comunidade no qual o negócio está localizado.

Implementar as práticas ESG é uma transformação cultural

Para tanto, é importante termos em mente que a implementação de práticas de ESG no dia a dia das empresas é, sobretudo, uma transformação cultural. Neste sentido, o principal papel das lideranças é serem exemplos e contribuírem para ações macro visando a difusão massiva de práticas sustentáveis, com foco social e de governança.

Dentro deste hall de estratégias, há desde a questão das parcerias com institutos especializados em práticas ambientais e contratações inclusivas até a implantação de políticas internas focadas na formação de um quadro de lideranças com mais multiplicidade. Além disso, o líder precisará estabelecer, em conjunto com seus gestores, métricas para avaliação das práticas de ESG, inclusive para que se possam otimizar processos e fortalecer, de fato, uma cultura mais sustentável e de impacto social real.

Estamos falando também de uma jornada de aprendizado. Líderes e profissionais interessados na construção de uma cultura devem procurar cursos, consultorias especializadas ou mesmo imergir no universo de ONGs e projetos de impacto social/sustentável por meio do trabalho em comunidades, troca de ideias e debates. Não há receita mágica: como toda aquisição importante em uma carreira, para fortalecer conhecimentos e skills no universo de ESG, o profissional terá de correr atrás e valorizar esse importante processo de aprendizagem.

Nunca é demais reforçar que o mercado está atento às empresas que se preocupam com seu impacto social e ambiental. Como citei acima, o número de investimentos nas chamadas ações ou títulos verdes tem crescido no Brasil e mundialmente. E, da parte do consumidor, dados recentes indicam o crescimento da preocupação da sociedade por questões ambientais e de impacto positivo nas comunidades. Apenas para elucidar este cenário, uma pesquisa da McKinsey apontou que mais de 70% dos consumidores estariam dispostos a pagar mais por um produto que atendesse padrões de sustentabilidade.

Portanto, enquanto lideranças, devemos tirar os projetos de ESG do papel e implementá-los na prática. Em outras palavras: não adianta adotarmos um discurso elegante, sem efetuarmos ações concretas. Temos de fazer nossa parte para construção de um futuro mais igualitário, para sustentabilidade financeira de nossas empresas e em prol da preservação do planeta para as próximas gerações. E nessa equação, não tenha dúvidas: todos saem vitoriosos!

Alexandre Velilla é pós-graduado (PMD) pelo IESE – University of Navarra e formado em Ciências Econômicas pela USCS e em Ciências Contábeis pela UNISA. Tem mais de 25 anos de experiência, em empresas nacionais e multinacionais, nas áreas de finanças, controladoria e administração, além de auditoria e consultoria. Já passou por companhias como KPMG Brasil, Boston Scientific do Brasil, EY, e CEL.LEP. Experiência alicerçada em Estratégia, Gestão e Finanças. Velilla também é apresentador de TV do programa “Café com CEO” e jurado titular do “Batalha das Startups”, ambos da Record News. Além disso, é membro dos Comitês Estratégicos de CEOs e de CFOs da AMCHAM, membro do conselho consultivo do CEAP (melhor ONG de Educação do Brasil em 2019 e do Sudeste em 2020) e Vice-Presidente de Inovação do IBEF-SP (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças). É também empresário, sendo sócio-fundador da Quest Construções, sócio da Flex Interativa e investidor-anjo no BR Angels. Em 2020, foi eleito Profissional do Ano pela ANEFAC (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), na 35ª edição do prêmio.

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